Este ano li quatroze livros, para o ano quero ler mais do dobro, trinta. Estabelecer objetivos claros para o próximo ano, seja na leitura ou nos jogos, é uma prática que pode trazer organização e sentido de propósito. E, como é tão importante ler, sobretudo para mim que escrevo e que quero melhorar a cada novo artigo publicado, decidi traçar este objetivo, embora definir uma meta deste tipo, quantitativa, pode afastar-me de outras experiências que eventualmente poderei estar a perder. Portanto, esta abordagem também exige equilíbrio e flexibilidade, sobretudo quando o tempo é limitado e os interesses ( ou seja, o que for ditado pelas votações do clube de leitura onde me insiro) podem variar ao longo do ano.
Para 2025, vou certamente ter em conta livros que quero ler (policiais nórdicos e clássicos, assim como os do Stephen King), sem nunca esquecer as seleções mensais do meu clube de leitura. É certo, se durante 2025 quiser ler livros enormes, isto poderá entrar em conflito com a minha meta definida no Goodreads. É óbvio, a qualidade do que se lê é infinitamente mais importante do que a quantidade do que se quer ler. Dou muito mais valor a livros que me tragam alguma gratificação pessoal, que me fiquem na memória por vários anos. Enquanto que obras literárias que entrem a cem e saem a mil do meu disco rígido biológico, tento evitá-las. Contudo, como é que vou saber se vou reter algo? Tenho perfeita noção de que deveria ler só quando me apetece e aplicar esta regra a tudo. Infelizmente, não consigo funcionar assim, sou uma pessoa muito peculiar e estranha que encontra prazer quando sai do seu conforto, das mantas quentinhas dos jogos com um loop mecânico que me injeta pontualmente a dopamina que tanto procuro. Prefiro obrigar-me a ler, porque assim é muito mais provável deparar-me com experiências que nunca pensaria duas vezes em tentar.
Por exemplo, no domínio dos videojogos, agora que não tenho a possibilidade de acompanhar tudo o que sai, seja a comprar (já foi tempo ter um bom orçamento mensal para jogos) ou a receber códigos dos produtores para posterior cobertura, posso escolher a dedo o que quero jogar e que já sei serem experiências absolutamente fantásticas. Ou será que o são mesmo? Mesmo que confie cegamente nos críticos que mais admiro e que tenham uma opinião semelhante à minha, só sei se gosto de jogo x, y ou z se e só se os experimentar. Não sou um jogador de YouTube que "joga" a ver outros a jogar por mim. O trabalho de seleção de jogos para O Albergue dos Silêncios, no Rubber Chicken, faço-o com completa noção de escolher jogos de forma altamente especulativa. Assimilo informação de determinado jogo, seja através de vídeos promocionais, textos de press releases (totalmente feitos para convencer os jogadores a colocarem o jogo na lista de desejos do Steam), ou a ouvir opiniões alheias. Noventa porcento dos jogo que seleciono podem vir a tonar-se um autêntico lixo digital - não acredito, mas é uma hipótese. Mas é assim em tudo, não há garantias de o que quer que desejam de fazer que seja bom. A não ser que já tenham experimentado e estejam a repetir algo que gostaram - e mesmo assim, nem sempre acontece. Às vezes, bons jogos são como as comédias brejeiras, só têm piada uma vez.
Por isso, vou continuar a fazer metas para os livros porque estes vão para além do prazer que sinto a lê-los, são uma ferramenta de aprendizagem para me tornar melhor no meu ofício. Sinceramente, acho que preferia traçar uma meta para o número de páginas que vou ler e não para a quantidade de livros que as páginas lidas ocupam. Vou traçar igualmente objetivos de jogos que quero jogar e estes prefiro medir em jogos jogados, do que em quantidade de horas passadas neste nosso entretenimento favorito. Ou seja, para 2025 quero eliminar y jogos do meu backlog, não tem que ser especificamente um ou outro, seja qual for que escolho tenho quase a certeza que estarei bem servido.
E assim, despeço-me de 2024 e espero um 2025 ainda melhor. Para a primeira edição da newsletter Videojogos: Boas Leituras, posso-vos dizer que será uma nova entrada na rubrica Artesanato da Diversão de uma entevista que se prolongou de Abril, até ao final este ano. Sinceramente, acho que será um dos meus melhores trabalhos feitos até hoje. E ter tanta confiança no que faço é algo muito raro.
A todos os meus leitores, seguidores, amigos e mecenas do meu Ko-fi, desejo-vos umas boas entradas neste novo ano que se aproxima.
Leituras
Boas leituras têm sido escassas nesta época festiva, por isso ficam com três sugestões. Guardem-nas no Pocket e leiam-nas mais tarde.
Há bons pedaços de reflexão espalhados pelos enredos secundários que se esticam para além da temática de injustiça social ou conflito político. Dois dos meus social links favoritos são focados na perda dum ente querido a estes personagens, como eles lidam com a dor e depressão e como nós, no lugar do protagonista, tentamos (e muitas vezes sentimo-nos inúteis) em conseguir ajudar um amigo num momento difícil. - Miguel Teixeira sobre Metaphor: ReFantazio, Fun Factor
A nível mecânico, os dois jogos têm focos diferentes, apesar das suas semelhanças. Ambas as jogabilidades constroem-se sobre a exploração e a resolução de puzzles, intercaladas por momentos de combate, que acabam por ocupar grande parte da jogabilidade. O sistema de combate é um gosto adquirido e um dos elementos mais enfraquecidos pela passagem do tempo, e o que já não funcionava em 1999, ainda é menos compreensível em 2024. - João Canelo sobre Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered, Echo Boomer
Uma vez que Shiren the Wanderer é um RPG por turnos, a competência que limarão partida a partida não é a destreza de dedos, mas sim o delineamento de estratégias. Perante a ideia de um RPG roguelike, esperava encontrar um estímulo a planeamento fora da caixa a cada erro fatal cometido; uma experiência capaz de induzir delírios de genialidade e grandeza em bestas quadradas como eu. Porém, a aprendizagem que me abriu as portas aos créditos passa por duas facetas em nada apoteóticas. - Tiago Sá sobre Shiren the Wanderer: The Mystery Dungeon of Serpentcoil Island, GameForces
Para ouvir
Em vez de um podcast vou partilhar uma playlist do Spotify, o último programa do Split-Chicken (sou eu quem escreve o programa O Albergue dos Silêncios, narrado pelo Ricardo Correia) antes deste ter desaparecido do Spotify e outras plataformas onde era distribuído, mas como o Spotify era a fonte, desapareceu de muitas plataformas para além da maior reprodutora de música por streaming do mundo. Esta playlist específica são as dez melhores músicas de 2024 que o Ricardo Correia, mais uma vez com uma excelente curadoria, ouviu neste ano prestes a terminar. Que 2025 nos traga um Split-Chicken com energias renovadas.
Vejam isto
Aparentemente, 2025 para a frente, o videojogos será das personagens femininas que empunham uma espada para dilacerar os seus inimigos. Que excelente apanhado do videogamedunkey.