Ultimamente, na comunidade que mais visito, tem-se sentido por alguns membros - eu incluído - um cansaço em jogar. Nada satisfaz, tudo é difícil de nos agarrar à proposta que um determinado jogo nos oferece. Há dias em que nada nos diverte. Ligamos a consola ou o PC, percorremos uma extensa ludoteca - e a minha Switch está cheia de bons jogos dado os vários anos a analisar videojogos desde que saiu - experimentamos um, depois outro, mas ao fim de alguns minutos percebemos que nada nos prende. O jogo A parece demasiado complicado, o jogo B demasiado superficial, o jogo C tem diálogos intermináveis, o jogo D atira-nos de imediato para a ação sem qualquer envolvimento. Nenhum deles está errado. Nós é que estamos errados. Ou, talvez, apenas cansados.
Mas o que está por trás desse cansaço? Tudo depende de como está a nossa mente. Pelo menos, esse é um dos fatores mais importantes para podermos desfrutar de qualquer atividade. Se a nossa cabeça e o nosso corpo não estiverem em sintonia, dificilmente conseguiremos aproveitar os jogos ao máximo - ou sentir aquela sensação de satisfação que tanto procuramos. Não é apenas uma questão de encontrar o jogo certo, mas de estarmos no estado mental certo para nos deixarmos envolver.
Dou por mim tantas vezes a navegar pelas extensas bibliotecas de jogos, sem saber o que jogar e com tanto para jogar. Mas há uma condicionante importante que, há uns anos atrás, não tinha tanto peso: o tempo. A falta de tempo, a escassez do mesmo. A enorme quantidade de escolhas de atividades e hobbies que uma pessoa possui atualmente - sem mencionar o mais importante, as responsabilidades (já vos disse que tenho duas filhas) - parecem que não para de aumentar. Então, tendo eu um par de horas para jogar, parece que a ansiedade já começa a avaliar se vou conseguir ligar a consola, começar a jogar e usufruir desse precioso tempo; ou se vou perder demasiado tempo a escolher um jogo ou se vou … ou se … ou se … e puff. Lá foi o tempo que tinha disponível. Opto por dormir. Afinal, amanhã trabalho.
Talvez a solução seja parar de procurar a experiência perfeita e simplesmente jogar. Escolher um jogo e desfrutar. Se somos apaixonados por campanhas e não estamos a ter prazer nelas, mas sentimos vontade de passar um bom bocado, eu tenho a minha própria solução. Hades, da SupergiantGames. Nunca falha. Ou então, plantar umas abóboras em Stardew Valley - li recentemente sobre o seu desenvolvimento no livro de Jason Schreier, Blood, Sweat and Pixels . No final do dia, como diz o humurado Nelson, jogar tem de ser um prazer, um divertimento, uma paixão. Não um fardo.
Leituras
Ainda se fala bem de jogos como Indiana Jones and the Great Circle, Eternal Strands e Kingdom Come Deliverance II.
E é precisamente neste ponto em específico da construção das personagens que Indiana Jones and the Great Circle, para mim, na sua maior força. Bem definidos, com intenções credíveis, personalidades fortes, mas maleáveis e em sintonia com o ambiente que as rodeia. Para isso contribuiu e muito Todd Howard que, sendo um grande fã de Indiana Jones, conseguiu com sucesso estar na génese de todo este projeto e escolher as pessoas certas para o desenvolver. - Gonçalo Martins sobre Indiana Jones and the Great Circle, Meus Jogos
Ainda que a parte familiar no combate não esteja nos poderes. Está nos inimigos colossais que temos de enfrentar em vários momentos. Sejam figuras humanoides ou dragões ou lagartos ou qualquer outra figura que rapidamente nos espezinha sem dó nem piedade, ao conseguirmos trepar-lhes pelo corpo senti-me imediatamente de volta à minha PlayStation 2 aquando do lançamento de Shadow of the Colossus. - Marco Almeida sobre Eternal Strands, Café Mais Geek
Gosto de uma boa história, mas não gosto de ter de lutar contra o jogo para a poder desfrutar. Dito isto, se forem daquelas pessoas, com um dia bera, e quiserem um jogo para se perderem durante horas a caminhar, a andar à tareia em tavernas porque roubaram um pão ou olharam de lado para o bêbado local, então tudo está bem em Boémia. - André Pereira sobre Kingdom Come: Deliverance II, Echo Boomer
Nunca vou deixar de defender as experiências que nos formaram enquanto jogadores, mesmo no advento dos jogos tridimensionais e numa segunda fase com mundos abertos: mais do que um simples less is more, é a explicação de que tudo o que é demais é em excesso. - Ricardo Correia sobre Eternal Strands, Rubber Chicken
Para ouvir
Nem todos os estúdios de videojogos funcionam da mesma forma e é sempre interessante perceber como é que estes trabalham. A Strange Scaffold é particularmente curiosa por estar a trabalhar em quatro projetos ao mesmo tempo. Uma boa conversa entre Alanah Pearce, Mike Bithell e o convidado Xalavier Nelson Jr., diretor criativo da Strange Scaffold.
Vejam isto
Novamente, um excelente vídeo do Rui Parreira no seu canal dedicado a este tipo de vídeos onde debate temas interessantes sobre este meio de entretenimento. Acho que encontrei um bom tema para a próxima semana.