#082 Tempo para jogar
Faço uma pequena reflexão depois de ter jogado o longo Paper Mario: The Thousand-Year Door.
Demorei mais de um mês para acabar Paper Mario: The Thousand-Year Door. Não adiantou ir ver quanto tempo demorava a terminar no How Long to Beat, porque as mais de três dezenas de horas lá indicadas esticaram-se em cinquenta. Isto aconteceu graças ao último e desafiante boss que deitou por terra todas as estratégias que vinha a usar até chegar lá. Tive de passar por um processo de grinding que me fez produzir um outro artigo já publicado no Rubber Chicken, além da análise ao jogo propriamente dito. Hoje vou falar de algo que me passou pela cabeça, cheguei a escrever que esta é uma conclusão do que senti, mas esta palavra não estaria a ser usada corretamente dado a sua conotação demasiado definitiva. Qual foi essa "conclusão"? Não tenho tempo para jogar videojogos tão longos.
Agora que vejo Divertida-Mente 2 vezes sem conta com as minhas filhas, imaginei logo que no quartel-general das minhas emoções apareceu a velhinha Nostalgia. Fiquei com saudades da minha adolescência. Queria entrar numa máquina do tempo e entregar a minha Nintendo Switch ao Filipe de quinze anos que só tinha diabetes e a escola com que se preocupar. Acabaria todos os RPG que lá estão (ainda tenho uma coletânea digital generosa dos meus dias a analisar para o VideoGamer Portugal), incluindo os que estão na Nintendo Switch Online e outros bem maiores do que este Thousand-Year Door.
Felizmente, esta nova geração de produtores de videojogos sabe bem que os miúdos que jogavam nos anos oitenta e noventa são hoje pessoas adultas com uma vida bastante ocupada, com família, trabalho e responsabilidades com a casa - escrevo isto depois de ter colocado a roupa a lavar e de a ter estendido (já sou um profissional nas tarefas da casa). Por isso é que existem jogos muito bons que podem ser completados em dez horas ou menos (bem menos). Um dos meus jogos favoritos é Thirty Flights of Loving, um jogo que se termina em cerca de um quarto de hora. É claro que é um jogo com muitos detalhes bem colocados para esmiuçar numa posterior interpretação. Não é um jogo que se joga uma vez e se desinstala. Um videojogo com esta brevidade estende-nos a mão para que voltemos outra vez e que tentemos perceber todas as suas nuances. Contudo, um jogo não precisa de ser curto só para que alguém com tempo limitado o possa terminar - estaria quase como aquelas pessoas que exigem que um jogo seja mais fácil porque não se querem dedicar a aprender todas as mecânicas do jogo. Ultimamente, tenho jogado um dos jogos mais longos que me lembro de ter passado pelas minhas mãos, Hades. Terminei-o em cerca de noventa horas, mas as suas sessões curtas são excelentes para pequenos bons momentos, é daqueles jogos que sabe bem quando nos injeta dopamina. Há sempre algo para desbloquear, um objetivo por completar ou uma dificuldade para suplantar.
A verdade é que o tempo que dedicamos aos jogos é um reflexo da fase da nossa vida em que nos encontramos. Quando éramos mais jovens, tínhamos a energia e a disposição para maratonar jogos de RPG dias a fio, em sessões que podiam durar uma tarde inteira - era uma autêntica matinée com videojogos. Hoje, a vida adulta impõe-nos limites e obriga-nos a dar prioridade à outras atividades. Mas isso não significa que precisemos de desistir de jogar videojogos. A indústria tem-se adaptado a essa nova realidade, com experiências mais curtas e intensas, que podem ser aproveitadas em pequenos intervalos.
O desafio está em encontrar o equilíbrio entre a vontade de explorar mundos vastos e complexos e a necessidade de gerenciar o nosso tempo de forma eficiente. Talvez a solução esteja em diversificar nossa biblioteca de jogos, alternando entre experiências longas e envolventes e títulos mais curtos e diretos. Ou quem sabe, podemos simplesmente aceitar que nem sempre teremos tempo para tudo o que queremos e aprender a apreciar os pequenos momentos de felicidade que os videojogos nos proporcionam.
Afinal, os jogos são uma forma de arte que nos permitem escapar da realidade, relaxar e nos divertir. E, em última análise, não é isso que importa? Desfrutar dos jogos nos nossos próprios termos, sem nos preocuparmos com o tempo ou com as expectativas dos outros. No fundo, tenho tempo para videojogos. Não tenho é uma mente treinada para estar constantemente motivado em acabá-los, o cansaço da rotina diária também é um fator que pesa bastante no final do dia.
Leituras
Tenho noção que podia ter feito um apanhado das opiniões sobre o novo The Legend of Zelda, mas como sei que há atrasos nas entregas de códigos, decidi esperar mais uma semana. Em princípio, até ao final do mês, os meios mais relevantes já devem ter dado a sua opinião. Mas leiam o resto, o mercado não é só feito de grandes nomes como Zelda.
O problema a meu ver, passa pela jogabilidade, mais específico pelo input dos comandos. A falta de verticalidade a usar a arma principal (Katana) deixa a experiência mais aborrecida e frustrante. Este é um título que constantemente nos bombardeia com projécteis de todos os sentidos, e é de ficar desalentado um ninja não conseguir defender de baixo para cima com a arma principal, e ter que recorrer a outros meios mais lentos, e com menos precisão. - Igor Gonçalves sobre Shadow of the Ninja – Reborn, Squared Potato
No fundo, é um jogo cheio de passado e bases identitárias que qualquer fã da série irá reconhecer ao longo da aventura, mas ao mesmo tempo escancarou uma janela de oportunidade, preencheu um espaço servindo-se de uma princesa e calculou um risco com os poderes atribuídos à protagonista, sem se limitar a desenvolver os poderes do herói. Por um lado, é um jogo enformado no passado, mas cujo conteúdo e mecânicas de combate são diferentes e desempenham um papel criativo. - Vítor Alexandre sobre The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, Eurogamer Portugal
Em poucos minutos estava empolgado por estar a resolver vários puzzles seguidos, por muito que a jogabilidade seja bem diferente ao que estou habituado na série todo o sentimento que tinha era estar perante um jogo da série mais clássico, fiel às suas raízes, sensação esta que me acompanhou em todo o jogo. - Nuno Mendes sobre The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, Meus Jogos
Quando falo de jogabilidade, não me refiro apenas à criação dos Ecos, ou às ações básicas como caminhar, saltar ou nadar —, mas a todas coisas que Zelda consegue fazer. Refiro-me, sobretudo, à forma como o mundo está desenhado, permitindo-nos executar estas ações com uma sensação de liberdade absoluta. A possibilidade de testar ideias que, na nossa cabeça parecem lógicas e ver que funcionam no jogo, é algo que encanta qualquer jogador. - Rui Gonçalves sobreThe Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, Salão de Jogos
E há muito espaço para ser original, aliás, em certos momentos The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom é uma autêntica Masterclass em criatividade, repartida entre o design do nível e a solução pouco ortodoxa encontrada pelo jogador, para superar um problema. - Aníbal Gonçalves sobre The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, IGN Portugal
Graças a estes alicerces, em cada impasse, cada fosso inultrapassável, cada inimigo hostil, nasce um puzzle, para o qual cada jogador terá uma solução diferente. Perante uma caixa de madeira a bloquear o caminho, uns jogadores poderão queimá-la, outros parti-la-ão com lâminas cortantes ou atirando-lhe um calhau em cima, e ainda haverá quem educadamente a empurre para fora do caminho com sincronização. - Tiago Sá sobre The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, GameForces
Nem tudo são rosas, no entanto. FC 25 ainda é um jogo que pende para o ataque, e vão sentir isso quando estiverem a defender. Inexplicavelmente, os defesas parecem ganhar 30 quilos em cima quando tentam acompanhar um atacante, e volta e meia ficam maravilhados quando um tipo mais habilidoso faz uma finta à sua frente, como se esquecessem que podem pura e simplesmente encostar-se ao adversário e acabar com a brincadeira. - Pedro Pestana sobre EA Sports FC 25, IGN Portugal
E verdade seja dita, senti que The Plucky Squire, para todas as suas inspirações, faz muito pouco de interessante com elas: A exploração ao estilo de The Legend of Zelda? Pouco profunda, o jogo até é super linear; As mecânicas onde trocam as palavras para controlar o jogo? Muito fraquinhas e óbvias (mas se acharam piada à coisa, aconselho Baba is You); A troca entre 2D e 3D? Tal como disse acima, pouco explorada. - Miguel Teixeira sobre The Plucky Squire, Fun Factor
O problema, no entanto, é que para quem já se dedicava a esta vertente mais tática, é claramente um passo atrás. À primeira vista, pode parecer permitir aos jogadores personalizarem e ajustar os comportamentos dos seus jogadores com uma precisão maior do que nas edições anteriores. Porém, isso já era possível fazer manualmente, e esta abordagem mais simplificada dos player roles, retira opções a quem pretende um maior controlo. Nem sempre o que é mais simples é melhor. - Nuno Mendes sobre EA Sports FC 25, Salão de Jogos
É uma simplicidade agradável e que confere uma sensação de competência desde o primeiro momento da campanha deste título. Sensação essa rapidamente colocada à prova, uma vez que é no design de níveis que emerge o desafio e, convenhamos, a diversão de Shadow of the Ninja. - Filipe Castro Mesquita sobre Shadow of the Ninja: Reborn, GameForces
O nível de carinho, cuidado e trabalho que jorram de Castlevania Dominus Collection não deve ser ignorado. Esta é a terceira coleção dedicada à série Castlevania e sinto que é possivelmente a melhor. A apresentação dos menus, com os vídeos de introdução para cada jogo em HD, os extras com concept art e outras curiosidades sobre os três jogos, o mapeamento dos controlos e ainda a inclusão da versão japonesa de Haunted Castle, anteriormente disponível para Arcade, são apenas alguns dos exemplos onde sentimos o cuidado da Konami e da M2. - João Canelo sobre Castlevania Dominus Collection, Echo Boomer
Para ouvir
O Glitch Gamecast regressou em força. Do acervo de novos conteúdo que tinham reservado para os seus ouvintes este era o que tinha mais curiosidade conhecer e, felizmente, não fiquei nada desiludido. Os apresentadores sabem e percebem do que falam, o que contribui para a qualidade da conversa. Daqui, espero eu, vou estar atento para descobrir novos jogos deste género que tanto aprecio.
Vejam isto
Encontrei um vídeo muito curioso, com tema que incide as razões que podem estar a estragar a satisfação que retiramos dos videojogos - mas sinto que isso se aplica a outros passatempos além deste. Pessoalmente, reconheci alguns deles e vou trabalhar no sentido de os reduzir ao mínimo ou de os eliminar na sua totalidade.