#075 Livros e videojogos
Exploro as semelhanças destes dois meios tão diferentes, numa altura em que comecei um novo clube de leitura.
Na minha pequena casa de pedra que imagino na minha mente para uma das várias situações idílicas para escrever, na esperança de saírem os melhores textos para os meus leitores, tenho refletido sobre as semelhanças entre ler um livro e jogar um videojogo. Agora que vou tentar manter-me fiel a um novo clube de leitura, na comunidade Split-Chicken, porque com tanto a fazer na minha vida ler literatura e obras de não-ficção é algo do qual não quero abdicar, - até porque, num futuro próximo (muito próximo) quero escrever e publicar um livro - surgiu-me esta ideia de haver parecenças entre a leitura e jogar. Podem parecer atividades distintas, separadas pelo tempo e tecnologia, mas, ao observar de perto, é curioso notar como ambas oferecem uma jornada estruturada, rica em imersão, com marcos significativos e um crescimento pessoal que nos envolve profundamente.
Tal como as sinapses no meu cérebro serpenteiam por uma cadeia de neurónios até um pensamento se formar, tanto os livros quanto os videojogos requerem que se avance por uma narrativa estruturada. Nos livros, os leitores navegam através das páginas e capítulos, como se fossem ruas estreitas e secretas que revelam tesouros escondidos. Cada página que se vira é uma promessa de novas descobertas. Nos videojogos, avançamos por níveis ou missões, cada uma mais desafiadora e recompensadora que a anterior. Uma progressão sequencial, cuidadosamente elaborada por game designers, que mantém a nossa jornada organizada e recompensadora, envolvendo-nos profundamente, como as histórias contadas pelos mais notáveis autores de novelas e romances.
Os momentos cruciais da experiência, que tantos os livros como os videojogos oferecem, são como uma ponte que ligam as margens do rio Douro: essenciais e inesquecíveis. Para os livros, esses marcos são os capítulos e os pontos culminantes da trama, que nos proporciona uma sensação de realização a cada passo. Nos videojogos, são os níveis, a campanha e os objetivos secundários que oferecem recompensas semelhantes, motivando-nos a continuar. Cada avanço alcançado, seja na leitura ou no jogo, é uma celebração do progresso, um brinde, com o mais caro champagne francês, ao nosso esforço e curiosidade.
Ler um livro, tal como me disseram vezes sem conta as minhas professoras do primeiro ao terceiro ciclo, enriquece o nosso vocabulário, compreensão e, o mais importante, pensamento crítico. Cada página é uma janela para novos mundos e ideias que entram como ar que entra para arejar a casa e os nossos pulmões. Jogar um videojogo, por outro lado, aprimora a nossa coordenação motora, o pensamento estratégico e a resolução de problemas, como se estivéssemos a resolver os enigmas de um peddy-paper numa atividade extracurricular com os amigos da nossa turma. Ambas as atividades, de formas diferentes, contribuem para o nosso crescimento pessoal, enriquece-nos culturalmente.
Na minha casa, nomeadamente na sala onde a luz do sol entra pelos buracos ainda abertos dos estores tortos que fecham mal, sei que terei uma experiência realmente incrível caso decida ler e galgar pelas páginas que me restam para acabar Smartbomb e avançar para começar a ler O Ano da Morte de Ricardo Reis. Mas se tenho uma vontade de jogar, posso ligar a minha Switch para jogar Paper Mario: The Thousand-Year Door afim de escrever a minha opinião que quero tanto partilhar, ou então abrir a minha 3DS para resolver os casos policiais de Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy que tantas reviravoltas têm. Seja qual for a escolha que faça, há tanto para fazer nestas atividades com um apelo quase universal (os videojogos nem tanto).
O problema, a nível pessoal, acaba por ser esse: escolher. Normalmente, acabo por dar mais importância ao trabalho e ao que há de mais recente para não cair na desgraça que é o FOMO (fear of missing out). Porque quero tanto jogar clássicos, como os recentes Metroid que entraram no catálogo da Game Boy Advance na subscrição Nintendo Switch Online, assim como quero acabar o que tenho em atraso como Paper Mario ou jogos que tinha decidido acabar e adiei. Enfim, decisões fúteis, quando tenho preocupações muito mais importantes.
Leituras
Quando há artigos tão bons, a nossa praça fica mais rica, quem lê fica mais informado e dá mais valor a quem escreve crítica cultural. Pena que estes sejam casos pontuais e não um hábito semanal ou até quinzenal.
Mas preparemo-nos: sob o seu exterior afável e personagens risonhos, esconde-se uma história profundamente emocional sobre luto e superação, onde a narrativa central leva-nos e ao protagonista a embarcar numa jornada que este desejava ter feito com seu pai antes da sua morte. Dou-vos este contexto emocional que não tive, sabendo que este dá ao jogo uma profundidade inesperada (e que não adivinhamos à primeira vista) e um tom melancólico, mesmo com um elenco de personagens e cenários alegres. - Ricardo Correia sobre Pine Hearts, Rubber Chicken
A Realm Reborn foi uma experiência única na altura, onde ao longo dos meses eram introduzidos novos patches, atualizações ao jogo, todas elas como se fossem pequenas expansões que adicionavam conteúdo, mecânicas totalmente novas e, o mais importante para mim, mais história! Durante muito tempo visitava o jogo diariamente, onde uma das melhores descrições para o jogo é a que Naoki Yoshida (diretor do jogo) partilha: este jogo é como entrar num parque de diversões, repleto de diferentes atividades à nossa espera, várias delas distintas, onde fazemos o que nos apetece. Não há pressa em concluir tudo, não devemos ser pressionados para terminar a história ou completar as diferentes raids para adquirir o melhor equipamento. Uma filosofia que ainda se mantém e aprecio, sendo talvez isso que me puxa mais para o jogo ao longo de tantos anos. - "Uma década de Final Fantasy XIV" por Nuno Mendes, Meus Jogos
Caz é o destaque, como seria de esperar, mas todos os atores merecem uma menção honrosa por conseguirem tornar um jogo tão melancólico e perturbador numa experiência maioritariamente humana. Apesar das curtas interações, nós queremos proteger os colegas de Caz e isso é uma vitória para a The Chinese Room – mas não propriamente uma surpresa para os fãs de Everybody’s Gone to the Rapture. - João Canelo sobre Still Wakes the Deep, Echo Boomer
Lamento se te estou a dar uma novidade, mas os teus jogos, os teus filmes, os teus livros digitais, não são verdadeiramente teus. Os jogos na tua conta de Steam não são teus, e quando acedeste à Amazon para adquirir o livro Fire & Blood de George RR Martin, aquilo que compraste não foi exatamente o livro do autor de Game of Thrones, mas antes uma chave de acesso a um servidor centralizado, que te permite aceder aos conteúdos da obra. - "Físico vs. Digital - A tua coleção não é verdadeiramente tua" por Aníbal Gonçalves, IGN Portugal
Nesta pequena amostra do que nos espera, também já foi possível perceber o tipo de ciclo que existe em cada zona. Limpar inimigos, evoluir personagem, descobrir recursos, evoluir equipamento, derrotar o inimigo principal da zona e é liberada uma nova cidade. Espero que este ciclo seja temperado com mais alguma variedade ao longo do resto do jogo, porque por agora só foi possível fazer o mesmo tipo de atividade três vezes. Não sei até onde vão conseguir esticar isto sem que se torne repetitivo bem rapidamente. - Marco Almeida sobre Flintlock: Siege of Dawn, Café Mais Geek
O jogo é rápido, a sensação de física é boa e lembra como a Sega foi uma das melhores dentro dos jogos do tipo arcade. Banana Rumble impressiona pelas dezenas de labirintos e pela forma como se encontram editados. Há qualquer coisa de específico em cada nível, algo de diferenciador. - Vítor Alexandre sobre Super Monkey Ball Banana Rumble, Eurogamer Portugal
Para ouvir
André Broa, criador de The Night is Grey, é o primeiro convidado de Rui Parreira neste novo episódio de Split-Chicken Especial. Excelente conversa que aqui se construiu.
Vejam isto
Um vídeo do GaneXplain sobre os preços que a Nintendo pratica em remasters. Deviam ser tão caros como um jogo novo ou ter um valor ajustados aquilo que oferecem? Estou mais inclinado para a segunda questão.