#065 Game Boy, a máquina da nostalgia
Relembrar a portátil da Nintendo que completou 35 anos.
Sempre ouvi dizer que o olfato é dos mais poderosos sentidos para nos fazer viajar no tempo, a um tempo já vivido - obviamente. Contudo, conheço algo que não é tão imediato, mas que faz esse transporte mental extremamente bem. Como é óbvio, estou a referir-me aos videojogos, ou não fosse esta uma newsletter celebra este meio do entretenimento. A minha máquina do tempo favorita, ultimamente, tem sido a Nintendo Switch que me permite aceder, através da subscrição do serviço Nintendo Switch Online, aos títulos Game Boy, Game Boy Advance e Super Nintendo (entre outros). Em relação à Game Boy, que fez recentemente trinta e cinco anos, a título de curiosidade, tenho ideia de que tive duas: a original cinzenta e uma transparente (igual à original, nunca tive uma Game Boy Pocket). Embora seja mais provável que tenha tido só uma - a maravilhosa portátil transparente. A minha memória está demasiado difusa em relação à cinzenta. Ou estraguei-a e deram-me a transparente muito mais tarde, ou, o que acredito ser a hipótese mais provável, nem tive a tal Game Boy Cinzenta e as minhas memórias com a consola existem porque alguém amável emprestou-me a portátil.
O certo é que os jogos que me assaltam a memória com uma enorme facilidade são eternos clássicos como Tetris, Super Mario Land, Super Mario Land 2: 6 Golden Coins e Godzilla (um estranho jogo de puzzles com o kaiju mais famoso da cultura pop). Depois da consola saída da mente do génio Gunpei Yokoi, também tive uma Game Gear, uma consola que não me deixou com vontade de a voltar a jogar. Como toda a gente que teve esta portátil da SEGA, detestei a consola por ser sôfrega a consumir pilhas, nem adiantava serem Duracell ou Energizer, acho que nem quatro horas durava com pilhas novas. Na altura eram e ainda hoje são caras as pilhas, portanto acabou por ser uma consola que ficou relegada para um canto da prateleira a apanhar pó do que nas minhas mãos. Ainda me diverti bastante tempo com Columns, fiquei bastante frustrado por não conseguir acertar com os os saltos em The Simpsons: Bart vs. The Space Mutants e um jogo dum filme com Schwarzenegger, Last Action Hero (até hoje, nunca vi o filme).
Portanto, à medida que vão chegando mais títulos à Nintendo Switch Online vou experimentando o que aparece, nomeadamente nas consolas portáteis Game Boy e Game Boy Advance. Não sei o que é (mas desconfio), há algo que me deixa profundamente mais interessado nos jogos dessas duas consolas. Provavelmente, é o reviver de emoções despertadas em situações muito específicas da minha infância e adolescência. Momentos menos bons que se tornaram em momentos de diversão. No mundo dos adultos podia estar a correr tudo mal, todavia, eu, um moço que não media mais de metro e meio, estava desligado de conversas extremamente aborrecidas (não tinha interesse nenhum em saber o que se passava com familiares distantes, nem sequer a realidade política vivida nos anos noventa ou até mesmo futebol). Era e ainda sou um rapaz pouco social e uma portátil era perfeita para evitar conversas desconfortáveis ou (se não as conseguisse evitar) esquecê-las rapidamente. Foram poucas as vezes que preferi jogar a dois ou com um grupo pequeno. Preferia a intimidade da Game Boy do que a socialização de uma consola doméstica. Contudo, também me divertia bastante quando jogava com amigos. Era bom estar com pessoas da mesma tribo, falar com quem teem os mesmos interesses e não eram um espelho da vontade dos pais, uma escultura esculpida pelos seus progenitores que queriam os seus filhos a serem o que a sociedade quer, sem personalidade própria.
Além dos videojogos, também adorava ler banda desenhada. Lia sobretudo os almanaques Hyper Disney, para acompanhar as aventuras mirabolantes de Pato Donald, os seus sobrinhos (Huguinho, Zezinho e Luisinho) e Tio Patinhas. Estas personagens da Disney foram a minha companhia nas forçadas e obrigatórias idas à praia que destestava. Foi graças a estas histórias que tive a sorte de passar por uma loja ver Quackshot! e pedir a minha mãe que o comprasse para a minha SEGA Mega Drive. Caso contrário, nunca teria tido um cedo contacto com o jogo que se ia revelar ser o meu primeiro metroidvania - bons tempos. Nas férias escolares, como cresci na Póvoa de Varzim, sem plafond para escolher outro destino, ou ia à praia, ou era repreendido por reclamar ir assar ao Sol e ia à praia na mesma. Sempre detestei ir à praia. Agora que tenho quase quarenta anos, com duas filhas lindas, adoro ir à maldita praia para ver a felicidade estampada no sorriso das minhas miúdas - e claro, correr e brincar cansa-lhes bastante, adormecem cedo e a noite é um sossego que não troco por nada neste mundo. Por muito que a praia seja uma das atividades mais económicas da pausa escolar mais prolongada do ano, envolve gastar algum dinheiro, até o próprio transporte tem o seu custo. Mesmo que não seja a melhor opção, pode-se ficar em casa, numa das divisões mais frescas da casa. A minha opção preferida, no longínquo ano de 1999, por exemplo, era jogar Game Boy e passava tardes fantásticas a jogar Pokémon com um dicionário ao meu lado. A minha vida está diferente e tenho mais responsabilidades do que fazer os trabalhos de casa ou manter a minha glicemia em valores normais, por isso tenho de pensar bem se quero introduzir já as minhas filhas aos videojogos tradicionais (não aos dos telemóveis) ou se algum dia darei esse passo.
Escrever faz bem. Clarifica-nos as ideias. É como acender uma lanterna numa noite escura o caminho fica mais claro e sabemos exatamente para onde temos de prosseguir para chegar ao destino pretendido. Os videojogos foram e são uma grande parte da minha vida, é claro que quero transmitir os bons sentimentos que os videojogos me fizeram sentir às minhas filhas. Devo ter começado a jogar perto dos oito, por isso não vale a pena estar a preocupar-me que elas vão perder uma parte desta cultura. Quando for a altura certa, estarei, espero eu para lhe estender o tapete de boas-vindas aos videojogos com uma seleção já previamente curada com os melhores títulos. Ainda é cedo, a mais velha ainda lhe falta três anos para chegar à idade que eu comecei a jogar. Até lá, estarei aqui pronto, de braços abertos para recebê-las e explicar-lhes tudo. Há uns tempos, a minha filha mais velha já deu uns toques em Super Mario RPG e Super Mario Kart - espero que este seja um bom sinal.
Leituras
Bons textos, numa altura mais tímida na escrita. Não há volta dar, são os grandes jogos (e por grandes estou a apontar aos jogos com orçamentos elevados, na ordem das centenas de milhões de dólares) que fazem mexer as canetas de quem escreve em Portugal. É pena, mas é a realidade. Ainda bem que há exceções à regra.
É por isso que repito: adoraria desfrutar de Harold Halibut em qualquer outro formato, que não num videojogo. Até porque gosto mesmo mesmo disto, do seu slice-of-life que nos deixa seguir os habitantes de Fedora; desfrutar daquele retro-futurismo sujo e prático tão palpável que podia ser bem nosso; das prestações que o elenco entrega nas suas interações; e de como tudo é tão fora e onírico, mas relacionável e próximo. - André Pereira sobre Harold Halibut, Echo Boomer
Também posso acrescentar que quando descobrimos a razão para o loop do jogo, a única coisa que este acrescenta é um maior número de inimigos a cada masmorra. Os mesmos inimigos. - Gonçalo Carvalho sobre Void Wizard, Rubber Chicken
Tudo o que eu disse no início deste texto é sincero e eu admiro Dragon’s Dogma 2 por querer ser algo tão único e sem rédeas como é. O que eu não compreendo é o arcaísmo e quase amadorismo do seu sistema de gravação, como se a Capcom não soubesse o que fazer com ele; será reflexo do seu por medo em facilitar demasiado a experiência ou o oposto? - João Canelo sobre Dragon's Dogma 2, Echo Boomer
Também podia trucidar o funcionamento do combate por não ser suficientemente inovador ou refrescante face às suas inspirações mas, quando a iniciei, não tencionava escrutinar esta coleção como um mágico de um só truque, mas sim a julgar o combate em função da outra face da moeda: o drama da mui nobre família Tsubakikoji. - Tiago Sá sobre Rose & Camellia Collection, GameForces
Minishoot’ Adventures assume-se como uma dessas situações, um jogo extremamente original que responde a uma pergunta que penso que nunca tinha sido antes feita: o que aconteceria se pegássemos numa aventura como The Legend of Zelda: A Link to the Past e lhe adicionássemos um twin stick shooter com travo a bullet hell? - Ricardo Correia sobre Minishoot' Adventures, Rubber Chicken
Muitos poucos mundos abertos encorajam o jogador a simplesmente andar e explorar ao que considero um ritmo lento, mas Dragon’s Dogma, e, por sua vez, Dragon’s Dogma 2, fazem do seu mundo dinâmico o fator mais interessante do jogo inteiro. - Diogo Lopes sobre Dragon’s Dogma 2, Squared Potato
Para ouvir
Adoro ouvir semanalmente este podcast que, ultimamente, apesar de algumas adversidades, têm feito um de tentar trazer sempre um convidado. Desta vez foi Insónias em Carvão, a personalidade das redes sociais conhecida por fazer excelentes e cómicas fotomontagens com jogadores de futebol e políticos. É uma conversa que vale a pena ouvir, sobretudo, quando fala alguém que, apesar de atento aos videojogos, não costuma dar a sua opinião sobre os mesmos.
Vejam isto
Este tipo de vídeos não recai propriamente nas minhas preferências, mas acabei por adorar ver e ouvir o que os apresentadores têm a dizer sobre EarthBound. Conhecido como Mother 2 no Japão, sempre tive uma enorme curiosidade por esta obra que tanta gente venera quando se fala em jogos RPG e em Nintendo. Um dia ainda hei de jogá-lo, nem que seja com um guia ao lado.